Hoje de manhã, eu estava no ônibus lotado e atrasado e fiquei pensando o que aconteceria se, naquele momento, eu gritasse: "SOCORRO! UM ZUMBI!"
Provavelmente nada.
Ainda assim, eu imaginei as pessoas fugindo, desesperadas. Imaginei o motorista pedindo calma, alguém ligando para a polícia, uma mulher rezando, uma criança largada chamando a mãe e vários curiosos parados na rua: o pânico se disseminava. Me imaginei descendo pela janela, correndo rua abaixo (aliás, rua, não. Avenida Brigadeiro, que é uma baita ladeira), gritando por socorro e descobrindo que as pessoas para quem eu pedia ajuda já estavam contaminadas com "a praga".
Uma garota vestida com seu uniforme do McDonald's passa correndo por mim e grita: "por aqui!". Eu vôo atrás dela, rezando para que os mortos-vivos sejam bem lerdos. Paramos para descansar atrás de uma caçamba.
"O que é isso?! Que tá acontecendo?", eu pergunto. Ela me olha como se eu fosse retardada e sussurra: "fala baixo. Eles podem ouvir você" – ela marca bem o "ouvir". "ah, entendi", eu respondi, bem baixinho.
Nós saímos do nosso esconderijo, agachadas. "você vai por ali", ela aponta para a esquerda, "não podemos atrair a atenção. Vai rápido, eles estão vindo!"
Sem pensar duas vezes, eu corro para a Alameda Santos. Olho para trás e vejo dezenas de mortos se arrastando na minha direção. Um deles ainda usa o uniforme de cobrador. Quando olho para frente, vejo uma enorme raiz de árvore solta no chão. Percebo que é tarde demais para desviar, tropeço e caio de cara no chão.
Não há mais o que fazer; a multidão de mortos famintos e em decomposição já me rodeia. Eu fecho os olhos e aceito o meu destino...
"você vai descer nesse ponto?"
Abro os olhos, confusa. Meu ponto tinha chegado.
Acho que eu tenho algum problema.
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