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sexta-feira, 1 de março de 2013

Sobre mascotes resgatados

Jerí, a gatinha nordestina, quando chegou em casa
Lá estava eu, toda esticada numa cadeira, curtindo o sol nordestino. Tentando eliminar a esperança e preocupação do vestibular. Lendo minha Agatha Christie.  Eis que minha mãe chega toda esbaforida na praia: "você não vai acreditar no que eu achei!". Eu segui seus pulinhos característicos até um quartinho da piscina do hotel. Lá de dentro, ela trouxe um embrulho de toalhas e tapetes de banheiro. A primeira coisa que consegui ver foi um par de patinhas minúsculas. O menor dos gatinhos, choramingando, logo levantou sua cabecinha e abriu seus olhinhos ainda cegos.


"A mãe a abandonou há uns três dias. Já ligamos para a companhia aérea, mas eles não permitem que gatos com menos de três meses viajem de um estado para o outro", disse minha mãe, chorosa. Lhe demos o nome de Jerí, em homenagem a Jericoacoara, onde estávamos.



A Jeri logo ganhou o amor de todos. Fraquinha, ela só conseguia mamar em uma seringa de insulina que minha doutora mãe sempre carrega, sabe-se lá porquê. E sentia frio o tempo todo. E chorava pela mãe. E dormia na palma da minha mão. Até meu padrasto, que é sempre frio nessas situações, se derreteu com a pequenininha. Pelo resto da semana, tentamos, em vão,  fazer com que a mãe de Jeri a aceitasse de volta (aliás, depois, descobrimos que a "mãe" era, na verdade, um gato macho que devorava gatinhos filhotes). Sabíamos que, se a deixássemos, ela morreria, fosse "de morte morrida", fosse "de morte matada". Não demorou muito e minha mãe começou com suas loucuras: "vamos levar essa gata."



O problema: eram seis horas de carro até Fortaleza, mais três de avião até São Paulo. O plano: compraríamos uma pochete sem nenhum metal e daríamos, com a ajuda de uma piedosa veterinária local, sedativo para a gatinha, que dormiria na pochete até chegarmos.



Mas, claro, nada saiu como planejado.



O carro em que estavam meu padrasto, meu irmão e a namorada quebrou no meio da estrada, atrasando ainda mais o plano. Minha mãe começou a ter um ataque de nervos. Meu padrasto começou a gritar no telefone. Minha irmã começou a chorar e meu namorado, que é todo certinho, entrou em choque. Para piorar, minha mãe acabou dando muito pouco sedativo para a gatinha, que acordou bem na hora de passar pelo detector de metais. Durante as três horas de vôo, a tensão podia ser cortada com uma faca e, quando finalmente o comandante anunciou a aterrissagem, Jerí deu um miado federal (que minha irmã escondeu com uma encenação de manha que renderia o Oscar).

Enfim, chegamos. Jerí sobreviveu, minha mãe não teve um colapso e nós não fomos presos por tráfico de animais silvestres. Hoje, ela está com quase 1Kg, brinca com qualquer coisa que se mexa e dorme enrolada nas minhas pernas toda tarde.



Os melhores bichinhos de estimação são os que salvamos.



2 comentários:

  1. Parabéns Helô o seu relato "cutucou" o meu coração. Lembra-se sempre que querer é poder. Te amo

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  2. Obrigada, GP! Que bom que gostou... foi uma história e tanto, né? haha beijos.

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